"Advirta-se, porém, que nesta nossa doutrina, jamais queremos concordar com a daqueles perniciosos homens, que, obcecados pelo orgulho e inveja de satanás, quiseram subtrair aos olhos dos fiéis o santo e necessário uso das imagens de Deus e dos Santos, de modo a desviar os corações do culto que a elas é devido: não tratamos de abolir as imagens e impedir as almas de venera-las, como fazem eles. Nossos propósito é assinalar a infinita distância existente entre essas imagens e Deus. De tal maneira deve a alma usar delas, que lhe sirvam de meios para passar da imagem à realidade; e não se tornem obstáculo para impedir à alma o acesso deter-se em tais representações. Mais do que é necessário, assim como é bom e imprescindível o meio para chegar o fim, e, no nosso caso, as imagens para trazer a lembrança de Deus e dos Santos, assim também é impedimento e estorvo o mesmo meio, quando a ele nos apegamos. Se nos demoramos no meio mais do que o necessário, acharemos tanto obstáculos nele para o fim, como em outra qualquer coisa diferente. Com muito mais forte razão, insisto no desapego das imagens e visões sobrenatural, donde podem nascer muitos enganos e perigos. Quando à lembrança, venerados e estimam das imagens apresentadas aos nossos olhos pela Igreja, não pode haver perigo nem engano, porque a alma nelas estima só o que representam; e por este motivo só poderão trazer-lhe proveito. Efetivamente, a lembrança dessas sagradas imagens produz na alma o amor daquilo mesmo que figuram; e se a alma não se demorar nelas mais do que é necessário para este fim, sempre a ajudarão para a união divina, deixando o espírito livre para que Deus o eleve quando lhe aprouver, da imagem ao Deus vivo, no olvido de toda criatura e objeto criado.
São João da Cruz (Séc. XVI)
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